segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O BÊBADO QUE FAZIA DE TUDO


Em minha cidade tinha um torneiro mecânico que era o “factótum” da região, fazia até armas de fogo. Uma vez fez uma peça para um avião que fizera uma aterrissagem de emergência na cidade. Cobrava caro pelos serviços. Alegava que tinha que valorizar sua arte. Gostava de uns goles, vivia bêbado. Quando o conheci já estava com quase setenta anos e ainda trabalhava. A gente brincava com ele perguntado se ele fazia de tudo. Ele rindo dizia:
-Tudo não, quase tudo...
Certo dia, entrei em um bar e ele estava em uma mesa fazendo contas em um pedaço de papel. Curioso, perguntei:
-Que está fazendo Valdemar, o seu testamento?
-Não, estou fazendo as contas de quantos barris de duzentos litros de pinga  eu bebi em toda minha vida...
-Como você está fazendo essas contas?
-Ora eu comecei a beber aos quinze anos, bebo um litro de pinga por dia, então não vai ser difícil saber o resultado.
Eu não esperei o resultado, saí rindo daquela esquisitice.
Uma vez um gerente de um banco da cidade entrou em férias e foi ensinar ao substituto o segredo do cofre. O cofre era daqueles complicados. O gerente após muito ensinar, disse ao substituto:
-Escreva a combinação em um papel e não o perca, se você perder, vai ter que chamar um técnico da capital para abrir o cofre, aqui não tem ninguém que o faça.
O gerente foi viajar na sexta-feira, e na segunda o substituto foi abrir o cofre um pouco antes do expediente.  Havia perdido o papel com a combinação do cofre. Tentou e tentou abrir o danado, e nada de conseguir. Quase em pânico ouviu um dos funcionários falar que o Valdemar poderia abrir o cofre. Procuraram o Valdemar por toda cidade.  Foi encontrado bêbado em um bar das proximidades. Tiveram que quase carregá-lo ao banco.  Foi levado ao cofre. Com as mãos trêmulas começou o serviço. Pouco depois conseguiu abrir o cofre. O substituto do gerente suspirou aliviado. Seu alívio durou pouco, só até ouvir o preço do serviço.
-Quinze contos. Disse o bêbado.
-Tá doido, disse o bancário, pago não, você não gastou nem vinte minutos para fazer o serviço.
O bêbado rapidamente fechou a porta do cofre e rodou um dos diais, embaralhando a combinação. E disse:
-Tá certo, então abre! E foi saindo.
Não teve jeito, tiveram que pagar o preço pedido...
                             * * *
Herculano Sousa

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